terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Desses vinte anos nenhum foi feito pra mim, e agora você quer que eu fique assim igual a você!?

Ei menino branco o que é que você faz aqui Subindo o morro pra tentar se divertir Mas já disse que não tem E você ainda quer mais Por que você não me deixa em paz? Desses vinte anos nenhum foi feito pra mim E agora você quer que eu fique assim igual a você É mesmo, como vou crescer se nada cresce por aqui? Quem vai tomar conta dos doentes? E quando tem chacina de adolescentes Como é que você se sente? Em vez de luz tem tiroteio no fim do túnel. Sempre mais do mesmo Não era isso que você queria ouvir?... (Legião Urbana, Mais do mesmo)

(Foto: Região em frente a UFRA e a UFPA, em tempos de Fórum Social 'Mundial')

Ainda com alguma lembrança do fsm2009, dia 1º, depois do encerramento fórum, show de Jorge ben, chego em casa, um grupo se reunia lá embaixo, bebendo e conversando, me juntei a eles, em meio a várias conversas, conversa vai, conversa vem, blá blá blá... Recebi um telefonema e atendi o celular, o meu celular chama muita atenção, não é qualquer um, é aquele da Nokia, modelo 1100, o primeiro que veio com lanterninha, como todos ficaram olhando pra ele, eu lembrei de uma história que aconteceu e que sempre lembro quando falam dele....

“Eu estava do lado da escola que eu trabalho, conversando com um ex-aluno meu que já concluíra o ensino médio há um ano, conversando com ele, ele contanto seus objetivos nos estudos, e eu contanto os meus, conversando como dois amigos, então peço número do telefone dele, pois agora ele trabalha como mototaxista, e quando eu precisasse ligaria para ele... (antes que eu terminasse de contar a história para o grupinho fui interrompido por um dos que escutava, já conto a interrupção)... então peguei o meu celular e o meu ex-aluno falou rindo, ‘égua Nairo, compra um celular novo pra ti, tu ganha dinheiro ’ e eu ri bastante, achei engraçado, enfim a história é essa” A interrupção que sofri foi: “porra, o teu aluno virou mototáxi, não foi culpa tua ? hehehe pow cara, ele virou mototáxi!? égua, esses teus alunos” No momento só fiquei olhando e realmente não falei nada para não deixar o grupo num clima ruim, só falei ‘nem todos tem as mesmas oportunidades’. Mas realmente todos que estavam ali, e alguns que participaram de um fsm, a maioria ali, senão todos, tiveram a oportunidade de nascer em ‘berço de ouro’, é muito fácil conseguir um progresso na vida acadêmica e depois profissional se dependo de pai, temos tudo do bom e do melhor pra comer e estudar, o fsm não é modinha nem empolgação, pra dar uma de intelectual e dizer que se preocupa com o social, (será que) todos temos a mesma oportunidade de conseguir as coisas, estudar, trabalhar, ou até de comprar uma moto? E se não temos as mesmas oportunidades será que a culpa é nossa? A culpa é nossa quando não pensamos, assistir e viver uma desigualdade é natural, é falta de esforço ou burrice de quem não consegue ter o que estudar? ter o que estudar muito e brigar com o pai incompreensível é ralar na vida? A sociedade deve abrir seus olhos, e enxergar os problemas sociais, é muito fácil olhar a desigualdade de cima e dizer que é fácil subir, incompetência de quem não consegue, se nunca se desceu e olhou-se a desigualdade lá debaixo.... ah, e dizer que faz e luta pelo bem, e criticar os políticos brasileiros, mas fechar os olhos pro verdadeiro retrato do Brasil, tudo isso é muito fácil.

Nairo Bentes